quinta-feira

O escritor deve sofrer para escrever?

Acha que o escritor deve sofrer para escrever? Deve vivenciar fatos e emoções que tornem sua obra mais crível? Que deve escrever sobre coisas, fatos e emoções que realmente conheça, ou isso é apenas para os mais extremistas?

É mais fácil escrever sobre aquilo que se sabe, não tenho dúvidas. E talvez a pergunta seja outra que não essa, mas: uma pessoa para ser tornar um "grande" escritor deve ter sofrido na vida? Lendo o livro "A Louca da Casa" de Rosa Montero há um que desse sofrimento imprenscindível necessário à alma dos escritores como se as linhas poéticas e o texto em prosa só pudessem existir através da dor, da miséria, da guerra, do holocausto, da deficiência física ou mental, do fascismo, da ditadura, da exploração sexual, da pedofilia ou daquilo que dizem ser podre na humanidade. Basta vermos os temas que a maioria dos prêmios literários conferem. Por um lado não nego que uma das funções da literatura é justamente essa, a de retratar a sociedade através de sua crueldade e fazer dessa obra um alerta, mais do que um retrato. No entanto há um algo dentro de mim que diz: e seu eu não estiver afim? Quer dizer, será mesmo que para ser um escritor reconhecido e laureado é necessário escrever apenas sobre esses temas como reflexo da sua própria dor? O filho eterno, os avós que fugiram da guerra - quer dizer, dos escritores brasileiros jovens, quais deles entendem realmente o significado da guerra? Ou mesmo os jovens escritores africanos que passaram a vida toda em Portugal ou na Europa desde os três anos de idade - o quê esses jovens escritores tem a dizer? Qual é o tamanho da dor deles não fosse os noticiários da tevê ou aquilo que é legado familiar? Porque é bem claro que ainda existe uma negação para uma escrita feita de marginalidade, os cordéis, os raps, os funks, uma série de manifestações que os letrados ainda ignoram. Em lugar, aplaudem aqueles que dos marginalizados escrevem o que torna a coisa toda, de certo modo, um tanto irônica. O quê uma jovem de classe média que mora no Rio de Janeiro tem de experiência em rinhas ou porcos abatidos? Qualquer um pode escrever e fazer literatura. É preciso apenas uma ideia na cabeça, uma vontade e tempo.